VIAJANDO COM OS FILHOS

VIAJANDO COM OS FILHOS
 
Tenho certeza que já escrevi aqui que meu principal objetivo era viajar com meus filhos. Continua sendo. Mas é muito mais difícil que eu imaginava. Muito mais desafiador do que tentar educa-los em casa, com a ajuda da escola, do professor de natação, de judô, de bale, de sax, de piano, de canto, no meio de uma rotina infernal de leva e traz, de acorda, almoça, sai, volta e dorme, e acorda, levanta.... Aqui ficamos o tempo todo com eles. Dormimos a maioria das vezes todos no mesmo quarto. Quando acampamos, sempre um deles dorme conosco na nossa barraca. E isto é sempre motivo de brigas, antecipadamente. Quem vai dormir em cima, na barraca de teto?! No carro as brigas e discussões entre eles são frequentes. Temos que apartar os dois e daí brigamos ainda mais. Conhecemos muito mais eles, mais a um preço alto. Eles se mostram muito mais frágeis que imaginávamos. Quando estão na rotina deles, indo automaticamente de um lado para outro, de uma atividade para outra, não conseguimos entender o que realmente está se passando na cabeça deles. Agora também não entendemos, mas ao menos vemos que eles são muito diferentes do que imaginávamos, pois os víamos muito pouco, como qualquer pai e mãe que trabalha o dia todo, e mesmo que alguém tenha mais tempo do que os que trabalham todo o dia, grande parte do tempo em que eles estão acordados eles estão sem a gente, ocupados com as tarefas que citei no começo. Impossível conhecer nossos filhos de verdade. Muito difícil conhecer um pouco sem ter tempo para isto. Aqui, quase 24 horas com eles, com certeza durante 100% do horário comercial, vemos que eles não são nossos, eles tem vida independente, sofrem e vivem a vida deles, mesmo que tentemos estar pertos, juntos. Quando desobedecem ou são mal educados a reprimenda é muito pequena, porque tudo o eles tem de importante na viagem é tão pouco, que os privar disto torna ainda mais difícil as coisas. Tirar o Ipad ou o celular em casa é uma coisa. Deixar sem assistir TV, ou sem ir na casa do amigo no final de semana, quando estamos no conforto do lar, é fácil, mas aqui, isto é tirar tudo o que eles tem. E eles não escolheram estar aqui. Quiseram vir, claro, mas só tinham 9 anos quando eu os convidei, então onde mais iriam?! Eles aprenderam árabe, francês, inglês, a montar barraca de teto, a fazer fogo, a lavar a louça, aprenderam que as pessoas são diferentes, que o dinheiro é muito mais circunstancial do que definidor de alguém, mas ficaram mais dependentes de nós, o que agora me parece natural, pois estão todo o tempo conosco, sem amigos, sem o resto da família. No final um balanço será feito -  ganhos e perdas. Por enquanto sinto que eles mais se perdem do que se encontram, mesmo que estejamos sempre ao lado deles.     

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

GHANA