GHANA

DO COMEÇO

Eu queria que meus filhos tivessem o mais cedo possível uma experiência de morar fora do Brasil. Queria que eles conhecessem diferentes realidades, que pudessem comparar com o que já tinham visto no nosso país. Queria que isto não se limitasse ao cenário convencional de uma viagem de turismo. Eu queria também continuar viajando de moto, mas viajar sem minha família tinha perdido o sentido, porque eu queria que eles também vissem o que eu estivesse conhecendo. Eu queria que as minhas histórias fossem deles também. Eu queria que eles entendessem o mundo muito melhor do que eu, para serem parte ativa das mudanças que irão acontecer. Eu só tinha que ter tempo, dinheiro e concordância da Michele pra que tudo isto acontecesse, se tudo isto significasse viajar por 6 meses pra algum lugar que eu ainda não sabia qual era. Quando a Michele gostou da ideia, ficou fácil. As crianças iriam onde nós fossemos. Era preciso ver como fazer na escola do Augusto e da Flavia, ter tempo e dinheiro. Pensando racionalmente, uma vez mais vi que o que era preciso era mesmo vontade e planejamento. Planejei bastante, tudo o que achava ser necessário, mas sei que não estaremos prontos pra tudo o que irá acontecer. E a vontade, esta aumentou a cada dia, mas também oscilou, porque sempre sentimos medo do desconhecido. E aqui não será apenas receio do lugar novo, mas de fazer algo muito inusitado pra nós 4. Mas preferi fazer do que não poder escolher, pois são tantas as forças que nos cercam, como a morte, que é sempre implacável. Quando este plano já quase não tinha mais retorno, vi amigos próximos e nem tanto, da minha idade e mais novos que eu, não podendo mais escolher, por não ter mais vida pra viver. Então vamos viajar, por 200 dias, da Alemanha ao Marrocos e dali até o Cabo das Agulhas, no ponto mais austral da África. Hoje é o dia zero.