GHANA


GHANA


Ghana foi nosso renascimento. Pela primeira vez pudemos entrar no mar, não sem encontrar algum plástico boiando, mas certos de que havia condições de balneabilidade. As estradas, desde a fronteira com a Costa do Marfim, garantiam uma condição boa de viagem. Médias de velocidade baixas, motoristas loucos, mas quase nenhum buraco como nos países anteriores. Mudamos do francês para o inglês, não sem nos confundir durante quase toda a primeira semana. Estávamos tão acostumados a tentarmos nos fazer entender em francês que o choque foi grande, especialmente porque o inglês de Ghana, o do cidadão comum, é tudo menos inglês. Impossível entender algo sem pedir ao menos umas três vezes para repetir. Mas nos sentimos muito bem. Poder estar na costa fez uma grande diferença no que vinhamos vendo até então, ou um pouco antes, até Abidjan. Também pudemos viajar distâncias menores do que antes, pois eram muitas as praias e fortes/castelos para conhecer. Pela primeira vez encontramos turistas, em um reconhecimento de que o país está muito mais desenvolvido do que os demais pelos quais passamos, com exceção do Marrocos. Como existe menos sujeira e pobreza, lugares mais preservados e vários históricos, como as fortalezas europeias de mais de 400 anos, que serviram para a defesa e especialmente para o envio para a Europa de tudo o que a África já teve de riqueza, inclusive seu próprio povo, a presença de americanos e europeus é grande. Sem que o país seja necessariamente uma potência econômica, é um dos que mais cresce na África e que colhe resultados dos ajustes econômicos realizados na década de 80, sem que isto implique numa condição de vida desejável para a maioria da população. Mas que está melhor do que os demais países isto é inegável. Vimos muito chineses, na construção civil, na indústria, no comércio. Nunca como funcionários, somente como os donos dos empreendimentos. A presença da China é marcante, alterando completamente a paisagem, pro bem e pro mal. Estão desenvolvendo o país, melhorando a vida dos africanos, ao mesmo tempo em que esgotam rapidamente os recursos naturais. Em Accra conhecemos uma cidade bem estruturada mas com trânsito de metrópole. Muitos congestionamentos para ir de um lugar a outro. Bairros ricos e muitas Toyotas Landcruiser novas, na faixa de USD 110.000, que sequer chegarão ao Brasil. Comida muito cara. Tanto nos supermercados quanto nos restaurantes. Muitos produtos franceses e ingleses, pra fazer jus ao passado colonial, vendidos a preços exorbitantes.


MUDANDO DE PLANOS – ENVIO DO CARRO


Relutei muito em não seguir em frente por terra até nosso destino final. Mas desde o Mali já encontrava sinais de problemas na nossa frente. O visto da Nigéria foi o primeiro grande obstáculo. Os meios convencionais de burlar o sistema de obtenção de visto apenas no consulado do país de origem já não estavam funcionando mais. O que nossos amigos viajantes tinham feito apenas dias antes já não valia pra nós, com muitas informações desencontradas. Eu não pretendia desistir facilmente, porque enfrentar dificuldades para conseguir vistos na África do Oeste era parte do pacote de viagem, não era novidade pra mim. Mas foi procurando informações com outros overlanders que fui recebendo informações péssimas sobre grupos rebeldes armados entre as fronteiras da Nigéria e Camarões, exatamente na rota que pretendíamos passar. A alternativa seria fazer fronteira mais ao norte, mas daí o problema era a condição das estradas, todas de chão, numa época de chuvas na Nigéria. Travessias de rios sem pontes seriam esperadas. Passei então a buscar outras possibilidades, como um ferry que levava da Nigéria ao sul de Camarões, fora da zona de conflito e escapando das chuvas do norte. Mas era uma travessia de alguns dias e no final do ano passado um barco da empresa que faz este trajeto tinha afundado, deixando vários mortos. As coisas iam ficando cada vez mais confusas e eu sequer tinha um caminho claro para o visto. Minhas buscas por todos que tinham passado ali recentemente me levaram ao relato de uma família de franceses que eu já conhecia e acompanhava a viagem, que fazia de tudo, com 3 filhos bem pequenos. Eles acampavam em qualquer lugar, no meio do nada, tinham passado por Burkina Faso, numa área onde frequentemente turistas são sequestrados. Eram meu modelo de viajantes destemidos. E justamente eles tinham preferido evitar a Nigéria por questão de segurança. Tudo o que eu queria fazer nesta viagem não contemplava colocar minha família em risco. O Mali, o Senegal, a Costa do Marfim, são todos lugares pobres, miseráveis em parte, mas são seguros. Se eu estivesse sozinho meus cálculos seriam outros, mas a situação não era esta. Estou com meus filhos e esposa, então não fazia sentido optar por algo arriscado quando havia uma alternativa segura. Decidi então desviar a Nigéria e mandar o carro por barco, pra algum lugar ao sul de Camarões. Um viajante de moto me convidou para dividirmos um contêiner pra Namíbia, saindo de Ghana, e a partir daí nossa decisão estava tomada. Ele desistiu de enviar a moto porque conseguiu o visto dele pra Nigéria, mas nesta altura eu já tinha quase convencido a Flavia que mesmo fazendo assim teríamos cruzado a África, enquanto ela insistia que assim não valia e o Guto dizia que queria mesmo era conhecer o Congo...

A decisão de abandonar o trajeto original foi complicada, mas em um ponto eu já não sabia se era meu ego que não me deixava desistir e exigia que eu seguisse o plano ou se eu relutava porque estava apenas buscando uma solução mais fácil. As ponderações foram muitas, mas no final prevaleceu a ideia de segurança de todos e a possibilidade de se conhecer mais lugares com natureza no sul da África, tendo Walvis Bay como ponto de recomeço. 



Tentando consertar a gaveta de ferramentas




















Praia de Busua





























Cape Coast









   




Comentários

  1. Maravilha!!! que viagem estão fazendo!!! Aproveitem e se cuidem

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  2. Gratulujemy wspaniałych zdjęć. Zapraszamy na naszego bloga: www.podrozeliliijurka.blogspot.com
    Pozdrawiamy
    Lila i Jurek

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