SENEGAL


ENTRANDO NO SENEGAL


O Senegal começou com uma fronteira facílima, relaxed, como dizem os overlanders. Imigração em 5 minutos, para 4 pessoas, com direito a coleta de impressões digitais e fotos. Para a importação temporária do carro, o agente aduaneiro, um fã de basquete, vestido com uma camisa do Kentucky Wildcats, assistindo a um jogo do campeonato africano de basquete feminino, que acontecia não muito longe dali, em Dakar, facilitou ainda muito as coisas. O senegalês de quase 2 metros de altura gostou de saber que eu tinha morado no Kentucky, era fã do time da UK e ainda por cima conseguia citar vários nomes de jogadores do time do Rick Pitino da temporada de 1994/1995. Gastei apenas tempo demais para comprar um SIM Card, o primeiro desde o Marrocos, aonde tínhamos pago muito pouco, por internet abundante e de qualidade. Ali o preço era alto e para poucos megabites.

O calor aqui era diferente da Mauritania. Quente e úmido.  Rumamos para Saint Louis, conhecendo a primeira cidade verdadeiramente africana do continente. Ficou muito abaixo das descrições animadas do Lonely Planet, principalmente porque logo no acesso à orla conhecemos o sistema de coleta de lixo estúpido e destruidor do meio ambiente. Sem cerimônia, os restos de tudo são colocados na faixa de areia próxima ao mar, para serem levados pela maré alta mais tarde, arrastados então pela corrente para uma parte ao sul da cidade, criando um lugar em que o lixo está por toda as partes, onde é impossível ver beleza em um lugar que é sim muito bonito, mas completamente poluído. Ficamos no Zebrabar, bem ao sul de Saint Louis e abaixo do ponto em que o lixo é arremessado pelo mar em uma larga faixa de areia, mas que não tem como não sofrer os efeitos deste comportamento humano arcaico e irracional. O Zebrabar é um camping conhecido e frequentado por viajantes no Senegal, então a passagem por lá era obrigatória. Macacos, pássaros e lagartos são moradores do lugar. Na nossa segunda noite a chuva caiu com força. Era a primeira da temporada de chuvas do Senegal e durou quase uma hora e meia, a partir das 3 da manhã. No começo achei tranquilo. Quando não queria mais parar, comecei a pensar que as pequenas lagoas que tínhamos atravessado para chegar ali poderiam virar um riacho e virem em direção ao camping, alagando nosso acampamento. Estávamos em cima do carro, então talvez sobrevivêssemos. Mesmo assim não consegui mais dormir. O vento e a água ficaram muito fortes e a barraca já dava sinais de que estava no seu limite. Uma primeira goteira começou a se formar e eu não parava de pensar em uma chuva que fez minha barraca submergir no Camping da Gringa, em Porto Seguro, mais de 25 anos atrás, quando fui pra lá com meu amigo Marlok. Por sorte estávamos no Reggae Night, tomando capetas, na hora do dilúvio. A chuva finalmente parou e me deixou voltar a dormir, por mais 2 horas. Era domingo, em tão dava para ficar um pouco mais na cama....














DAKAR


Dakar é bem perto de Saint Louis. São 265 kms, mas levamos quase o dia todo para chegar lá. Eram os primeiros efeitos das rodovias africanas. Velocidades médias muito baixas, final de feriado prolongado. Tudo bem. Acessamos a cidade por uma autopista excelente de 3 faixas, pedagiada, estrada conhecida por todos os viajantes de países de terceiro mundo, onde as estradas do interior são completamente abandonadas, mas assim que se aproxima da capital parece outro mundo. Quase chegando no nosso destino entrei na contramão em um trecho confuso de uma intersecção. Preparado para os motoristas perdidos, ali estava um policial que não quis saber de onde eu era e me deu uma notification, que custou perto de 50 reais. Não achei caro mas achei que ele deveria me ajudar, não me multar. Expliquei isto para ele e no final agradeci de ter sido somente isto.

Em Dakar o plano era ficarmos por 4 dias para pegarmos os vistos da Costa do Marfim e do Mali, mudando nosso roteiro inicial, em função das fortes chuvas que tornavam difícil o trânsito nas estradas da Guiné, Libéria e Serra Leoa. O Xixo me abastecia com vídeos incríveis dele encalhando na lama, atravessando rios onde a água entrava até a altura da canela na sua LandRover, demorando horas para vencer pequenas distâncias. Ele tinha partido de Dakar em direção a Ghana poucos dias antes de nós, pelo mesmo caminho que eu tinha planejado seguir. Obviamente que eu não iria mais por lá. Me assegurei que o Mali era uma opção razoável e redefini o roteiro, algo normal de se fazer aqui na África. Os vistos ficaram prontos, visitamos a cidade, descansamos, corri 10 km pela beira mar de Dakar, uma cidade onde os muito ricos convivem com os muito pobres pacificamente, onde o povo foi totalmente acolhedor, em todos os momentos, em todas as circunstâncias, onde a pobreza não pareceu motivo para violência, onde reclamam que falta emprego mas não se registram furtos – são incontáveis as BMWs e Mercedes último modelo passando a noite na rua -, onde ninguém olhou para o meu relógio ou tênis de corrida nos lugares mais feios pelos quais passei. Cidade onde o vigia de um prédio veio me dar um pequeno bilhete com os dados dele, para que eu o visitasse e me hospedasse em sua casa na próxima viagem ao Senegal, em uma retribuição implícita por ter recebido de mim um tylenol sinus para amenizar sua dor de garganta e de ouvido durante sua longa jornada de trabalho. Onde tantos outros também quiseram trocar contatos, me ajudaram a procurar nas ruas peças para o meu carro, caminharam longas distâncias ao sol em busca delas, assistiram por horas as tentativas de conserto da geladeira do carro, sem eu ter que perguntar “quel est le prix”?

A geladeira estragada nos fez ficar dois dias a mais em Dakar. O conserto começou na segunda-feira, mas apenas no sábado desistimos dele, procuramos e encontramos uma nova, menor mas mais eficiente, desembolsei muitos CFAs, jogamos a antiga fora e decidimos seguir viagem. Era 7 da noite e coincidentemente eu fazia o mesmo caminho do dia da chegada em Dakar. Passei então pela mesma “blitz” do primeiro dia. Sem qualquer dúvida fui parado, pelo mesmo policial da notification. Muito fácil, mas pra mim desta vez. Ele me pediu todos os documentos que tinha pedido da primeira vez. Perguntei se ele não lembrava de mim, da multa de uma semana antes. Falei que já tinha dado todos os documentos naquele dia, começamos a rir - eu ironicamente -, desejei bonne travail e não fiquei pra conversar até mais tarde, até porque meu francês ainda não estava muito bom.
   
Naquela noite minha estadia no Airbnb do Nadim já tinha acabado fazia 2 dias, não podendo ser prorrogada. Sem pensar duas vezes, mas certamente com o aval da Malika, o Mazenge, pai do Nadim, que estava em viagem muito longe de Dakar, nos convidou para ficar na casa dele. 4 pessoas, não apenas 1 viajante perdido por lá. Aceitamos, fomos recebidos como filhos, ficamos muito bem, conhecemos uma família libanesa-argelina incrível, tendo um tratamento que não encontra explicações.






Malika, Mazene e os viajantes

Ilha de Goree










DA ALEMANHA A DAKAR


Chegamos num domingo e saímos em um domingo de Dakar. 7 dias inteiros. Fizemos ROTTENBACH-DAKAR em 58 dias. Não foi nenhum recorde, a chegada foi menos emocionante que eu esperava, mas quando olhamos de onde saímos e onde chegamos, este primeiro trecho da viagem tem grande importância. Ainda falta um longo caminho e muitas alterações serão feitas no roteiro inicial, mas é assim que uma viagem como esta é percorrida.   


BANJIA E O SAFÁRI NO SENEGAL  


Rumamos para o sudoeste do Senegal, em direção a Banjia, para as crianças terem sua primeira experiência com um safári. Parque pequeno, um pouco do que sobrou da imensidão verde que já foi o Senegal. Os Baobas, que antes vimos perdidos pelo caminho, aqui estão em grande número. É uma árvore grande e a mais nova tem mais de 500 anos, impressionando pela beleza e pela importância na cultura tribal senegalesa, sendo parte de inúmeros rituais de vida e morte deste povo.

A reserva de Banjia não é o Seringheti, mas tem boa estrutura e permitiu às crianças verem alguns animais bem de perto, de dentro do nosso carro, junto com um guia que tentava nos explicar, em francês e em wolof, a história do local. Valeu a visita.  

















SENEGAL PELOS SENEGALES


“Falta trabalho. Mas se alguém roubar o outro é pego e espancado na hora. Tem ladrões, mas eles roubam bancos.”  

Achei o Senegal extremamente seguro. Meu carro ficou na frente do nosso apartamento em Dakar por 7 noites, sem qualquer problema. Com muitos equipamentos pendurados no teto dele. Não tinha vigia ou segurança. Mas todas as casas, prédios, etc., tem muros e grades. Não parece o interior do Alphaville.         















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