MAURITÂNIA
ENTRANDO NA MAURITÂNIA
Entrar na Mauritânia foi de algo normal para surreal. Meus
amigos overlanders tinham descrições
da no man’s land que iam de
tranquilas para perigosíssimas. Confiei nas tranquilas, que descreviam os 7-8 quilômetros
entre as duas fronteiras (Marrocos-Mauritânia) como algo onde bastava seguir as
marcas dos veículos que tinham passado antes para chegar com segurança do outro
lado. Não havia porque se preocupar com as minas terrestres enterradas por ali,
desde que você seguisse as tracks.
Era uma pista de areia, no meio do deserto, cheio de carros desmontados/destruídos
ao redor, e no começo não parecia complicado. Dispensei a ideia de participar
de um comboio com caminhões, até porque não vi nenhuma formação neste sentido.
Esperava seguir nossos recém-conhecidos amigos alemães, que iam na mesma
direção, em uma Toyota Hilux, mas eles ficaram para trás de nós, comprando ou negociando
algo logo após a saída do Marrocos. Fui indo lentamente, seguindo as marcas dos
pneus, tranquilo, quando de repente não havia mais nenhuma marca, estávamos
andando no meio do nada. O relevo não era plano, não dava pra saber ao certo
onde era a fronteira da Mauritânia. Eu não tinha contado pra ninguém da equipe
de bordo que a área era minada, porque não precisava assustar, porque não
haveria com o que se preocupar. Mas do nada eu não sabia mais onde ir. Uma Mercedes
antiga e arrebentada começou a se mover no sentido contrário, depois de uma
turma muito mal encarada entrar nela ao nos ver. Aumentei a velocidade em
direção ao nada. Não sabia pra onde ir. Parecia que tinha algo pra esquerda, no
meio de muitos carros destroçados, onde deveria haver um resto de uma pista de
concreto. Impossível saber o que era aquilo. A construção da fronteira apareceu
então na nossa frente e acelerei tudo, quase batendo num Peugeot 307 SW sinistrado,
com placas da Espanha, que dava a ré na frente do portão principal da aduana,
ao ser impedido de entrar. Ia ser desmontado ali mesmo, para ser vendido em
partes, como seus irmãos europeus que ali jaziam ao vento, nas areias da “terra
sem dono”.
SAINDO DA MAURITÂNIA
Certamente deve existir mais que areia, calor e vento na Mauritânia,
mas não conseguimos conhecer. O vento era tanto que era impossível sair de
dentro do carro. Com o vento vinha a areia fina do deserto. O calor só era suportável
com o ar condicionado do carro ligado. À beira mar, em Nouadhibou, foi difícil
procurar um lugar no camping para estacionar o carro e pensar como seria montar
a barraca de teto, no meio daquela ventania. A areia já tinha coberto a entrada
dos banheiros, tornando impraticável ficarmos lá. Acabamos num hotel/clube de
pesca antigo da cidade, com um excelente restaurante, mas sem chuveiro para nós,
pois todos os quartos estavam lotados. Podíamos acampar e usar o banheiro público,
só não tomar banho. O lugar era seguro e eu tinha meu whiske para ajudar a
adormecer, mesmo que envolto em areia, mas nem isto foi suficiente para
conseguir dormir. O vento era tanto que a barraca chacoalhava a noite toda,
onde fosse possível. No dia seguinte fui o primeiro a levantar e desmontar o
acampamento, já pensando na saída mais rápida daquele país. O Marcelo Leite me
disse um dia que a Mauritânia era lindíssima, então meu plano era viajar uma
semana por ali, mas como vínhamos do Marrocos, estávamos muito mal acostumados
com uma infraestrutura turística de verdade, e a Mauritânia não tinha nada
disto. O povo era ainda mais simpático e acolhedor do que os marroquinos, não
se limitando a um cumprimento verbal, fazendo questão de dar um aperto de mão. Mas
isto não foi o suficiente para ampliar nossa permanência. Em Nouackchott, a
capital, foi muito melhor, mais pelo camping do que por qualquer outra coisa. A
cidade era caótica, sem cor e sem nenhum atrativo, confirmando nossa decisão de
rumar rapidamente pro Senegal. Estrada péssima por quase 150 kms, até entrarmos
em uma estrada nova que leva à fronteira de Diama, atravessando um parque
nacional, em 80 kms que fazem a transição do deserto para uma área tropical. A
areia deu lugar a uma vegetação verde e o vento não existia mais. Em pouco
mais de 2 horas tudo mudou...
Comentários
Postar um comentário